Desde muito pequena Sophia sempre ouvia : menina saia do mundo da lua. Como não entendia bem o que aquilo queria dizer ... continuava onde estava. Sophia nasceu numa noite de lua cheia, e desde que desembarcou neste mundo dos humanos achou tudo muito esquisito ... tudo muito claro, todo mundo falando ao mesmo tempo e aqueles dois , que mais tarde veio saber que eram seus pais , chorando como loucos.
O tempo foi passando.Com um ano Sophia já andava e falava algumas palavras .Se afeiçoava cada dia mais a aqueles dois que a recebeu chorando e agora riam e achavam graça de tudo que ela fazia .
Sophia tinha suas preferências bem claras, pra muitos esquisitas,das bonecas, preferia a preta Tibuta,com quem sempre dormia abraçada . Entre os bichos, a cobra coral feita pela avó. Era de tecido, toda costurada à mão, e o que dava aquela suave forma arredondada e um cheiro de cerrado, era o enchimento de marcela.
Das conchas do mar, os búzios, entre as plantas, preferia a arruda. Gosto estranho para uma criança, né ? A sua preferência pela arruda, entretanto, tinha uma explicação.
Desde bebe Sophia era dada a desmaiar de repente, deixando toda a família louca, os pais preocupados a levaram á vários médicos. Dois anos de exames, buscas e nenhum dos médicos procurados encontrou o motivo dos desmaios.
Um dia, isto aconteceu na casa de sua avó. Ela, rezando, correu até o quintal, colheu um galho de arruda, macerou, separou em três partes. Uma ela colocou na nuca da menina, a outra no umbigo e a ultima segurou na frente do nariz para ela inspirar o cheiro. Este cheiro ficou registrado nas preferências de Sophia, que nunca mais desmaiou. Daquele dia em diante, todas as vezes que ia à casa da adorada avó, não esquecia de ir ao quintal visitar o abundante pé de arruda. Ali ficava por alguns minutos, acariciava a planta e dizia algumas palavras. Ainda hoje ninguém sabe o quê, pois, sempre que alguém se aproximava ela se calava imediatamente.
Sophia virou uma bela adolescente, cabelos cacheados, olhos de um marrom da cor de burro fugido, olhar profundo e inteligente. Era ótima aluna, interagia muito bem com todos. Muito simpática ,vivia sorrindo. Alias, o que mais chamava a atenção nela era o sorriso e o faceiro andar ,muito parecido com o andar de siriema.
Adorava ler, tocar falta . Gostava mais ainda de ficar deitada na grama do quintal em noites de lua cheia, por horas, vendo a lua caminhar pelo céu.
E foi numa desta noite que Sophia simplesmente desapareceu, é isto mesmo, foi para o quintal ver a lua e nunca mais voltou.
Procuraram por muito tempo, a vizinhança , a policia, o corpo de bombeiro, e nada. Seus pais ainda hoje a procura .Já a avó se conformou logo, nada tirava de sua cabeça e do coração
que Sophia tinha ido, de vez, para o mundo da lua.
Leninha.
