The Lisbon Streets (1977) - Ana Hatherly (1929 -2015)

Calouste Gulbenkian Museum, Modern Collection, Lisbon, Portugal

Material: Collage on paper on hardboard
Collection: Calouste Gulbenkian Museum, Modern Collection, Lisbon, Portugal
Inv.: 91P746

ABOUT THE WORK

As Ruas de Lisboa

«A GENTE
SÓ É DOMINADA POR GENTE
QUANDO NÃO SENTE QUE É GENTE»

Ana Hatherly, De palavra em punho

A série Ruas de Lisboa é um conjunto de descolagens de cartazes originais espalhados pelas ruas da cidade, que foram posteriormente montadas, re-coladas de modo a reproduzir o cenário urbano. ESTA RECOLHA, FEITA DURANTE O ANO DE 1977, REGISTA VISUALMENTE OS EFEITOS DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974 NA SOCIEDADE PORTUGUESA, A EUFORIA EM TORNO DA PALAVRA LIBERDADE.

Estes cartazes remetem para o universo do nouveau réalisme francês, mormente nas aproximações ao quotidiano urbano e à apropriação dos seus materiais. Porém, não será apenas o esplendor visual das manifestações e imagens da cidade que merecem a atenção da artista, mas também a energia libertária que essas imagens, coladas sem hierarquia nem composição, revelam.

A artista prefere sublinhar o carácter documental destas obras, no modo como a sobreposição de imagens provenientes de contextos díspares são um sintoma de uma sociedade que celebra ainda, numa alegria pueril sem consequências, a possibilidade de comunicar, expressar, afirmar.

OS CARTAZES DE LISBOA SÃO O REFLEXO DAS «IMAGENS EM LIBERDADE». O cartaz político aparece quase sempre, mas pelo meio encontram-se também figuras ilustradas, animais de circo e ícones da história. Uma sobre a outra, política e entretenimento, revestem as ruas da cidade, outrora limpas, brancas, mudas.

Mas estas sobreposições assinalam também que política e entretenimento ganham o mesmo estatuto. NO QUADRO SOCIOLÓGICO PORTUGUÊS, NA SEGUNDA METADE DA DÉCADA DE 70, A INSTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL E A URGÊNCIA EM ASSIMILAR A CONTEMPORANEIDADE INTERNACIONAL, REVÊEM-SE NUMA DESORDEM «CACOFÓNICA» QUE LEVA A RELACIONAR INSTÂNCIAS DIFERENTES E A SUBVERTER PROTOCOLOS, NUMA ESPÉCIE DE ENTROPIA FÉRTIL.

JB

Setembro de 2010

SOURCE: gulbenkian.pt/museu/works_cam/as-ruas-de-lisboa-154662/

EXHIBITION

Ana Hatherly: dessins, collages et papiers peints
Centre Culturel Calouste Gulbenkian
Curadoria: Ana Vasconcelos e Melo
6 de Outubro de 2005 a 15 de Dezembro de 2005
Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Paris
Exposição de trabalhos de pequeno formato de Ana Hatherly, comissariada por Ana Vasconcelos.

BIOGRAPHY

Ana Hatherly inicia em meados da década de 60 um percurso singular pela interioridade da escrita para concluir que esta «nunca foi senão representação: imagem». A artista empreende uma arqueologia da língua que a levará às origens dos signos e à herança da caligrafia oriental arcaica, que copia, disciplinadamente, até a mão se tornar «inteligente». O instrumento já não é a caneta, a mão, mas todo o corpo que se move e se inscreve na indizibilidade da escrita-imagem.

Nascida no Porto em 1929, Ana Hatherly cedo se interessa pela estética barroca, aplicando-se ao canto lírico. É, no entanto, na poesia que inicia um percurso multifacetado voltado para a «conceptualização do processo criador» e para a interioridade da escrita.

Licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorada em Literaturas Hispânicas pela Universidade da Califórnia, em Berkley, a sua ligação às letras levam-na a traçar um horizonte onde confluem imagem, som e ritmo, estimulando a «escuta da matéria». Um ano depois da sua primeira incursão pela poesia publica, no Diário de Notícias de 17 de Setembro de 1959, o primeiro poema concreto em Portugal, poeta arca seta. Durante os anos 60 persegue os valores plásticos da escrita em «poemas-visuais» e «poemas-figurativos», afastando-se do concretismo e descobrindo as raízes remotas da visualidade da língua. Num percurso que vai da vanguarda – no poema Un Coup de Dès (1897) de Stéphane Mallarmé (1842-1898) ou nos caligramas de Guillaume Apollinaire (1880-1918) – até às experiências caligráficas orientais e aos labirintos anagramáticos do barroco, Ana Hatherly assinala os rastos da evolução e reinvenção da escrita. Ernesto Melo e Castro chamou-lhe «barroco intuitivo», mas o programa iniciado nos Mapas da imaginação e da memória (1973) evidencia a cientificidade das suas pesquisas, que culminam na edição de vários ensaios sobre a arte dos séculos XVII e XVIII.

Ao mesmo tempo, começa uma longa série de poemas em prosa, ardilosas construções narrativas que mesclam diferentes estruturas discursivas, como a fábula ou a alegoria, e a que dá o nome de Tisanas. Estes textos curtos e desconcertantes são marcados por uma alquimia da escrita que põe à prova todas as certezas, assemelhando-se aos enigmas veiculados pelo Budismo Zen, mais conhecidos por koans.

A situação política em Portugal e o desgaste da censura – porque «a poesia exige liberdade» – incitam-na a partir para Londres, em 1971, onde irá frequentar nos anos seguintes o curso técnico de cinema na London Film School. Com o advento do 25 de Abril, regressa e fixa-se definitivamente em Lisboa. Celebra a revolução em intervenções políticas, com a captação cinematográfica da euforia popular. O entusiasmo pela liberdade traduz-se no empunhar da mão que ganha uma dupla dimensão: na cidade, ela antecede o acto enquanto sinal de ordem; na escrita, é já o início da acção.

O seu espírito livre, vincado por um forte empenhamento cívico e político, leva-a a nunca se fechar em correntes artísticas e intelectuais, integrando porém o Grupo Experimentalista Português e participando em numerosas exposições, com destaque para Alternativa Zero, em 1977, que marca o despertar do país para a vanguarda artística. Ao ingressar na carreira académica, em 1981, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Ana Hatherly vai deter-se na pesquisa sobre os processos da escrita e sua decifração, a variabilidade do jogo na construção do sagrado, e os mistérios da visibilidade.

Depois da grande exposição da sua obra visual produzida no período entre 1960 e 1990, no CAM, em 1992, Ana Hatherly expôs em pequenas mostras individuais onde apresentou pinturas evocativas da sua viagem à India, séries inéditas de trabalhos feitos em Londres, neo-graffitis, ou ainda pinturas onde a inquirição da reciprocidade entre a escrita e a visualidade dão lugar a uma pintura despojada, onde o pincel toca ao de leve a tela deixando as suas marcas tacteantes.

Joana Batel

Maio de 2010

SOURCE: gulbenkian.pt/museu/artist/ana-hatherly/

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Taken in: Portugal / Lisbon / São Sebastião da Pedreira / São Sebastião da Pedreira (show map)

Taken on: November 30, 2013

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Ana Hatherley

The Lisbon Streets (1977

Revolução dos Cravos

Révolution des oeillets

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Calouste Gulbenkian Museum

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Camera: Leica Camera AG M9 Digital Camera, 1/12 sec, 50mm, ISO 160 (more info) (hide info)

Camera:	Leica Camera AG M9 Digital Camera
Exposure Time:	0.083 sec (1/12)
Focal Length:	50mm
ISO:	160
Exposure Bias:	0 EV
Flash:	No Flash
Exposure Program:	Manual
Exposure Mode:	Manual
Metering Mode:	Center-weighted average
White Balance:	Manual
Light Source:	Daylight Fluorescent
Color Space:	Uncalibrated
Software:	Photos 4.0
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